Leitores do Mundo ao Meu Redor

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Jack Soul Brasileiro

Jackson do Pandeiro no olhar de Lenine.

domingo, 26 de outubro de 2008

De manhã

de Paulo Henriques Brito

O hábito de estar aqui agora
aos poucos substitui a compulsão
de ser o tempo todo alguém ou algo.

Um belo dia – por algum motivo
é sempre dia claro nesses casos –
você abre a janela, ou abre um pote

de pêssegos em calda, ou mesmo um livro
que nunca há de ser lido até o fim
e então a idéia irrompe, clara e nítida:

É necessário? Não. Será possível?
De modo algum. Ao menos dá prazer?
Será prazer essa exigência cega


a latejar na mente o tempo todo?
Então por quê?
E neste exato instante
você por fim entende, e refestela-se
a valer nessa poltrona, a mais cômoda
da casa, e pensa sem rancor:
Perdi o dia, mas ganhei o mundo.


(Mesmo que seja por trinta segundos.)


(BRITO, Paulo Henriques. As três epifanias – III. In: BRITO, P. H.
Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 72-73)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Carol_jp, esse é pra vc!

Langston Hughes é um dos meus poetas favoritos. Sua obra é fascinante. Nem mencionar o período extraordinário em que ele participou. Um movimento muito importante culturalmente chamado Harlem Renaissance. Tenho um livro dele fantástico de poesias (The Dream Keeper and other poems) que vou te emprestar! Sim, você terá que desenferrujar o inglês! Mas prometo que valerá mais que a pena! :)

Mother to Son

Well, son, I'll tell you:
Life for me ain't been no crystal stair.
It's had tacks in it,
And splinters,
And boards torn up,
And places with no carpet on the floor—
Bare.
But all the time
I'se been a-climbin' on,
And reachin' landin's,
And turnin' corners,
And sometimes goin' in the dark
Where there ain't been no light.
So, boy, don't you turn back.
Don't you set down on the steps.
'Cause you finds it's kinder hard.
Don't you fall now—
For I'se still goin', honey, I'se still climbin',
And life for me ain't been no crystal stair.
Langston Hughes
LANGSTON, Hughes. The dream keeper and other poems. New York: Knopf, 1994.

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

Uma parte de mim

alomoça e janta:

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

Traduzir uma parte

na outra parte

_ que é uma questão

de vida ou morte _

será arte?


Ferreira Gullar

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

“Cântico IX”

Os teus ouvidos estão enganados.
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
Há tanto tempo,
Pelo teu corpo, que enlouqueceu.


(MEIRELES, Cecília. Cânticos. In: SECCHIN, A.C.
(org.) Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001. p.125-6)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Canção Noturna


Gravação: Skank
Composição: Lelo Zanetti / Chico Amaral


Misterioso luar de fronteira
Derramando no espinhaço quase um mar
Clareando a aduana

Venezuela, donde estás?

Não sei por que nessas esquinas vejo seu olhar
Minha camisa estampada com o rosto de Elvis
A minha guitarra é minha razão
Minha sorte anunciada
Misteriosamente a lua sobre nada

Não sei por que nessas lacunas vejo seu olhar
Não sei por que nessas lacunas vejo seu olhar
Espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui
Espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui

Vem, mamacita, doida e meiga
Sempre o âmago dos fatos
Minha guerra e as flores do cactos
Poema, cinema, trincheira

Não sei por que nessas escunas vejo o seu olhar
Um cego na fronteira, filósofo da zona
Me disse que era um dervixe
Eu disse pra ele, camarada
Acredito em tanta coisa que não vale nada

Não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
Não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
Espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui
Espalhe por aí boatos de que eu ficarei aqui

Não sei por que nessas esquinas vejo seu olhar
Não sei por que nessas esquinas vejo seu olhar
Velejando, viajando sol quarando
Meu querer, meu dever, meu devir
E eu aqui a comer poeira
Que o sol deixará

Não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar
Não sei por que nessas esquinas vejo o seu olhar

Nothing is permanent... ?


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

What Dreams May Come

Filme extremamente emocionante, principalmente pra quem acredita em uma existência pós-morte. Amor além da vida, título em português.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Moça Tecelã

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu:
— Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.



Marina Colasanti

Eu sei, mas não devia






Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.






A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.






A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.






A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.






A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.






A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.






A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.






A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.






A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.






A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.




(1972) O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Hélio Pellegrino

“Quanto você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia. Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"

(Carta a Fernando Sabino, revista pelo autor ao fazer 60 anos)
http://www.releituras.com/helpellegri_bio.asp

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Para se emocionar...

Prêmio de publicidade no Festival de Cannes.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Documentário sobre Vinícius de Moraes

"Há pessoas com quem as palavras são desnecessárias..."

Vinícius de Moraes

domingo, 12 de outubro de 2008

Ostra Feliz Não Faz Pérola

Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores.

Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.

Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário... Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste... As ostras felizes riam dela e diziam: "Ela não sai da sua depressão..." Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.

O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.

Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-a em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade; era uma pérola, uma linda pérola. Apensa a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz..."

Ostra feliz não faz pérolas. Isso vale para as ostras,e vale para nós, seres humanos.
As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem. Mas as pessoas que sofrem, elas têm de produzir pérolas para poder viver. Assim é a vida dos artistas, dos educadores, dos profetas. Sofrimento que faz pérola não precisa ser sofrimento físico. Raramente é sofrimento físico. Na maioria das vezes são dores da alma.

Rubem Alves

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Fiz um trabalho na faculdade com esse conto do Guimarães Rosa e lembro de ter sugerido essa música para o final da apresentação. A releitura de Milton e Caetano: A Terceira Margem do Rio.

A Terceira Margem do Rio

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.
No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.
Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.
Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.
Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Guimarães Rosa
Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32)
Relembrando leituras da faculdade... Momentos únicos e inesquecíveis.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ausência

Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

Grande Mário Quintana!

Viver

Vovô ganhou mais um dia. Sentado na copa,
de pijama e chinelas, enrola o primeiro cigarro e espera
o gostoso café com leite.

Lili, matinal como um passarinho, também
espera o café com leite.

Tal e qual vovô.

Pois só as crianças e os velhos conhecem a
volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperas e
desejos nunca se estendem além de cinco minutos...

(QUINTANA, Mário. Sapato florido. 1a reimpressão. Porto Alegre: Editora Globo, 2005)

Mais sobre o indigo-boy Boriska


Esta é uma entrevista com Boriska na qual ele conta sobre suas "vidas passadas", com uma grande precisão e detalhamento.

I was told the story of an unusual boy named Boriska from members of an expedition to the anomaly zone located in the north of the Volgograd region, most commonly referred to as “Medvedetskaya gryada”…



“Can you imagine, while everyone was sitting around the campfire at night, some little boy (about 7 years of age) suddenly asked everyone’s attention. Turned out, he wanted to tell them all about life on Mars, about its inhabitants and their flights to earth,” shares one of the witnesses. Silence followed. It was incredible! The little boy with gigantic lively eyes was about to tell a magnificent story about the Martian civilization, about megalithic cities, their spaceships and flights to various planets, about a wonderful country Lemuria, life of which he knew in details since he happened to descend there from Mars, had friends there…



Logs were cracking, night's fog enveloped the area and the immense dark sky with myriads of brightly lit stars seemed to conceal some sort of a mystery. His story lasted for about an hour and a half. One guy was smart enough to tape the entire narration.



Many were stunned by the two distinctive factors. First of all, the boy possessed exceptionally profound knowledge. His intellect was obviously far from that of a typical 7-year-old. Not every professor is capable of narrating the entire history of Lemuria and Lemurians and its inhabitants in such details. You will be unable to find any mentioning of this country in school textbooks. Modern science has not yet proved existence of other civilizations.



Second of all, we were all amazed by the actual speech of this young boy. It was far from the kind kids his age usually use. His knowledge of specific terminology, details and facts from Mars' and Earth’s past fascinated everyone.



“Why did he start the conversation in the first place,” said my interlocutor. “Perhaps, he was simply touched by the overall atmosphere of our camp with many knowledgeable and open-minded people,” continued he.



“Could he make this all up?”



“Doubtful”, objected my friend”. “To me this looks more like the boy was sharing his personal memories from past births. It is virtually impossible to make up such stories; one really had to know them.”



Today, after meeting with Boris' parents and getting to know the boy better, I begin to carefully sort out all the information obtained around that campfire. He was born in Volzhskii town in a suburban hospital, even though officially, based on the paperwork, his birthplace is the town of Zhirnovsk of Volgograd region. His birthday is January 11th, 1996. (Perhaps it will be helpful for astrologers). His parents seem to be wonderful people. Nadezhda, Boriska's mother, is a dermatologist in a public clinic. She graduated from Volgograd medical institute not so long ago in 1991. The boy’s father is a retired officer. Both of them would be happy if someone could shed the light onto the mystery behind their child. In the meantime, they simply observe him and watch him grow.



-After Boriska was born, I noticed he was able to hold his head in 15 days, recalls Nadezhda. His first word “baba” he uttered when he was 4 months old and very soon afterward started talking. At age 7, he constructed his first sentence, “I want a nail.” He said this particular phrase after noticing a nail stuck in the wall. Most notably, his intellectual abilities surpassed his physical ones.
-How did those abilities manifest themselves?



-When Boris was just one year old, I started giving him letters (based on the Nikitin’s system) and guess what, at 1,5 he was able to read large newspaper print. It didn’t take long for him to get acquainted with colors and their shades. He began to paint at 2.



Then, soon after he turned 2, we took him to the children day care center. Teachers were all stunned by his talents and his unusual way of thinking. The boy possesses exceptional memory and an unbelievable ability to grasp new information. However, his parents soon noticed that their child had been acquiring information in his own unique way, from some place else…



-No one has ever taught him that, recalls Nadya. But sometimes, he would sit in a lotus position and start all these talks. He would talk about Mars, about planetary systems, distant civilizations…we couldn’t believe our own ears. How can a kid know all this? Cosmos, never-ending stories of other worlds and the immense skies, are like daily mantras for him since he was 2.



It was then that Boriska told us about his previous life on Mars, about the fact that the planet was in fact inhabited, but as a result of the most powerful and destructive catastrophe had lost its atmosphere and that nowadays all its inhabitants have to live in underground cities. Back then, he used to fly to earth quite often for trade and other research purposes. It seems that Boriska piloted his spaceship himself. This was during the times of the Lemurian civilizations. He had a Lemurian friend who had been killed right before his own eyes…



-A major catastrophe took place on earth. A gigantic continent was consumed by stormy waters. Then suddenly, a massive rock fell on a construction…by friend was there…, tells Boriska. I could not safe him. We are destined to meet some time in this life.



The boy envisions the entire picture of the fall of Lemuria as though it happened yesterday. He grieves the death of his best friend as though it was his fault.
One day, he noticed a book in his mother’s bag entitled “Where do we come from?” by Ernst Muldashev. One should have seen the kind of happiness and fascination this discovery triggered in the little boy. He’s been flipping through pages for hours, looking at sketches of Lemurians, photos of Tibet. He then started talking about high intellect of the Lemurians…



-But Lemuria ceased to exist minimum 800 000 years ago…, I uttered in response to his statements. Lemurians were 9 meters tall! Is that so? How can you remember all this?
-I do remember, replied the boy.



Later, he began recalling another book by Muldashev entitled “In Search of the City of Gods.” The book is mainly devoted to ancient tombs and pyramids. Boriska firmly stated that people will find knowledge under one of the pyramids (not the pyramid of Heops). It hasn’t been discovered yet. “Life will change once the Sphinx will be opened,” said he and added that the great Sphinx has an opening mechanism somewhere behind his ear (but he does not remember where exactly). The boy also talks with great passion and enthusiasm about the Mayan civilization. According to him, we know very little about this great civilization and its people.



Most interestingly, Boriska thinks that nowadays the time has finally come for the “special ones” to be born on earth. Planet’s rebirth is approaching. New knowledge will be in great demand, a different mentality of earthlings.



-How do you know about these gifted kids and why this is happening? Are you aware that they are called “indigo” kids? -I know that they are being born. However, I haven't met anyone in my town yet. Perhaps may be this one girl named Yulia Petrova. She is the only one who believes me. Others simply laugh at my stories. Something is going to happen on earth; that is why these kids are of importance. They will be able to help people. The Poles will shift. The first major catastrophe with one of the continents will happen in 2009. Next one will take place in 2013; it will be even more devastating.



-Aren't you scared that your life may also going to end as a result of that catastrophe?
-No. I’m not afraid. I have lived through one catastrophe on Mars already. There still live people like us out there. But after the nuclear war, everything has burnt down. Some of those people managed to survive. They built shelters, new weaponry. There was also a shift of continents there, although the continent was not as large. Martians breathe gas. In case they arrived to our planet, they would have been all standing next to pipes and breathing in fumes.



-Do you prefer breathing oxygen?
-Once you are in this body, you have to breathe oxygen. However, Martians dislike this air, earth’s air, because it causes aging. Martians are all relatively young, about 30-35 years old. The amount of such Martian children will increase annually.
-Boris, why do our space stations crash before they reach Mars?
-Mars transmits special signals aimed at destroying them. Those stations contain harmful radiation.



I was amazed by his knowledge of this sort of radiation “Fabos”. This is absolutely true. Back in 1988 resident of Volzhsky Yuri Lushnichenko, a man with extrasensory powers attempted to warn Soviet leaders about the inevitable crash of the first Soviet space stations “Fobos 1” and “Fobos-2”. He also mentioned this sort of an “unfamiliar” and harmful for the planet radiation. Obviously, no one believed him then.



-What do you know about multiple dimensions? Do you know that one must fly not on straight trajectories, but maneuvering through the multi-dimensional space?
Boriska immediately rose to his feet and started to pour all the facts about UFOs.


“We took off and landed on Earth almost momentarily!” The boy takes a chalk and begins drawing an oval object on a blackboard. “It consists of six layers,” he says. 25%--outer layer, made of durable metal, 30%--second layer made of something similar to rubber, the third layer comprises 30%--once again metal. The final 4% is composed of a special magnetic layer. “If we are to charge this magnetic layer with energy, those machines will be able to fly anywhere in the Universe.”



-Does Boriska have a special mission to fulfill? Is he aware of it?- I pose these questions to his parents and the boy himself.
-He says he can guess,- says his mother. He says he knows something about the future of Earth. He says information will play the most significant role in the future…
-Boris, how do you know all this?
-It is inside of me. -Boris, tell us why do people get sick?



-Sickness comes from people's inability to live properly and be happy… You must wait for you cosmic half. One should never get involve and mess up other peoples’ destinies. People should not suffer because of their past mistakes, but get in touch with what’s been predestined for them and try to reach those heights and move on to conquer their dreams. (These are the exact words he was using).



You have to be more sympathetic and warmhearted. In case someone strikes you, hug your enemy, apologize yourself and kneel before him. In case someone hates you, love him with all your love and devotion and ask for forgiveness. These are the rules of love and humbleness. Do you know why the Lemurians died? I am also partially at blame. They did not wish to develop spiritually any more. They went astray from the predestined path thus destructing the overall wholeness of the planet. The Magic’s Path leads to dead end. Love is a True Magic!


-How do you know all this???
-I know…Kailis…
-What did you say?
-I said “hello!” This is the language of my planet…


The boy says he was a Martian being seven meters in height in his past life
The unusual baby boy was born in the town of Volzhsky, the Volgograd region of Russia. His mother, Nadezhda Kipriyanovich, gave birth to her son one fine morning. “It all happened so fast, I did not even feel any pain. When they showed the baby to me, the boy was looking at me with a grown-up look. As a pediatrician I know that newborns cannot concentrate looks on anything. However, my little baby was staring at me with his big brown eyes. Brushing that fact aside, he was a usual little baby, like all other kids,” the boys mother said.


When the mother and her son returned home from the maternity hospital, the woman started noticing very curious things about her little son. The boy, whom the mother named Boris, hardly ever cried and never suffered from any ailments. He was growing up like all other children, but he started speaking whole phrases at the age of eight months. The parents gave the baby a meccano, and the boy started making geometrically correct figures from it, combining different parts with precision. “I had a very weird feeling that we were like aliens to him, with whom he was trying to establish a contact with,” the boy's mother said.



When Boris, or Boriska, as parents were affectionately calling their son, turned two, he started drawing pictures, which looked abstract at first: they were mixtures of blue and violet colors. When psychologists examined the drawings, they said that the boy was probably trying to draw the auras of people, whom he could see around. Boris was not even three, when he started telling his parents of the Universe.



”He could name all the planets of the solar systems and even their satellites. He was showering me with names and numbers of galaxies. At first I found it very frightening, I thought that my son was out of mind, but then I decided to check if those names really existed. I took some books on astronomy and I was shocked to find out that the boy knew so much about this science,” Nadezhda said.



Rumors about a baby-astronomer were spreading about the town faster than the speed of light. The boy became the local celebrity: people were curious about the child, everybody wanted to understand how he could know so many things. Boriska was willing to tell his visitors of extraterrestrial civilizations, about the existence of the ancient race of humans that were three meters of stature, of future climate and global changes…Everyone was listening to the little boy with great interest, but it goes without saying that the people did not believe those stories.



The parents decided to baptize their child just to be on the safe side: they already started thinking that there was something definitely wrong with their baby. Soon after that Boriska started telling people of their sins. He would come up to a guy in the street and tell him to quit doing drugs; he would tell adult men to stop cheating on their wives, etc. The little prophet was warning people against forthcoming troubles and diseases, which created quite an unfavorable reputation for the boy's parents.



Nadezhda noticed later that her son would often feel bad on the threshold of serious disasters. “When the Kursk submarine sank, he was all aching. He was suffering during the hostage crisis in Beslan too, he refused to go to school during the days of that horrible attack,” the boy's mother said.



When asked about his feelings during the days of the Beslan crisis, Boris said that he was burning from the inside: “It was like as if a flame was burning inside of me. I knew that the story in Beslan would have a horrible end,” the boy said.
The boy is quite optimistic about Russia's future, though: “The situation in the country will be improving gradually. However, planet Earth will have to experience two very dangerous years – 2009 and 2013. Those catastrophes will be connected with water,” Boriska said.



Boriska caught Russian scientists' attention in the summer of the current year. Specialists of the Institute of Earth Magnetism and Radio-waves of the Russian Academy of Sciences photographed the boy's aura, which turned out to be unusually strong.



”He has the orange spectrogram, which says that he is a joyful person of a powerful intellect,” professor Vladislav Lugovenko said. “There is a theory, according to which the human brain has two basic memory types: work and remote memory. One of the most remarkable abilities of the human brain is its ability to save information about experience, emotions and thoughts both inwardly and outwardly, in the single informational space of the Universe. There are some unique individuals, who can draw information from that field. In my opinion, every human being is connected with space by means of energy channels,” the scientist said.



According to Lugovenko, it is possible to measure people's extrasensorial qualities with the help of special devices, which make this procedure very easy. Modern scientists all over the world conduct extensive research works in an attempt to unveil the mystery of phenomenal children. As it turned out, people possessing unique abilities were born on all inhabited continents of the globe during the recent 20 years. Scientists call such kids “indigo children.”



”Boriska is one of them. Apparently, indigo children have a special mission to change our planet. Many of them have amended DNA spirals, which gives them incredibly strong immune system, which can even defeat AIDS. I have met such children in China, India, Vietnam and so on. I am sure that they will change the future of our civilization,” Vladislav Lugovenko said.



While world's leading space agencies are trying to find traces of life on planet Mars, eight-year-old Boriska tells his parents and friends everything he knows about the Martian civilization. Boriska remembers his past life. Specialists say that he knows the information, which he actually cannot know. A Russian journalist has recently talked to the boy about his unique knowledge and experience.



- Boriska, did you really live on Mars as people say around here? - Yes, I did, it is true. I remember that time, when I was 14 or 15 years old. The Martians were waging wars all the time so I would often have to participate in air raids with a friend of mine. We could travel in time and space flying in round spaceships, but we would observe life on planet Earth on triangular aircrafts. Martian spaceships are very complicated. They are layered, and they can fly all across the Universe. - Is there life on Mars now? - Yes, there is, but the planet lost its atmosphere many years ago as a result of a global catastrophe. But Martian people still live there under the ground. They breath carbonic gas. - How do they look those Martian people? - Oh they are very tall, taller than seven meters. They possess incredible qualities.



“When we showed our boy to a variety of scientists, including ufologists, astronomers and historians, all of them agreed that it would be impossible to make all those stories up. Foreign languages and scientific terms, which he says, are usually used by specialists studying this or that particular science,” Boriska's mother said.



Doctors of traditional medicine acknowledge the boy's unusual abilities, although they do not say, of course, that the boy used to live on Mars in his past life.


http://english.pravda.ru/science/19/94/377/12257_Martian.html


http://english.pravda.ru/science/19/94/378/16387_Boriska.html

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Boris Kipriyanovich

"People should not suffer because of their past mistakes, but get in touch with what’s been predestined for them and try to reach those heights and move on to conquer their dreams."
Esse é o relato mais bizarro que li nos últimos tempos.

A boy named Boris Kipriyanovich, or Boriska, lives in the town of Zhirinovsk of Russia’s Volgograd region. He was born on January 11, 1996. Since he was four he used to visit a well-known anomalous zone, commonly referred to as Medvedetskaya Gryada – a mountain near the town. It seems that the boy needed to visit the zone regularly to fulfill his needs in energy.

Boriska’s parents, nice, educated and hospitable people, are worried about their son’s fascinating talents. They do not know how others will perceive Boriska when he grows up. The say that they would be happy to consult an expert to know how to raise their wunderkind.

Being a doctor, his mother could not help but notice that the baby boy could hold his head already in 15 days after his birth. He uttered the first word ‘baba’ when he was four months old and started to pronounce simple words soon afterwards. At one year and a half he had no difficulties in reading newspaper headlines. At age of two years he started drawing and leaned how to paint six months later. When he turned two, he started going to a local kindergarten. Tutors immediately noticed the unusual boy, his uncommon quickwittedness, language skills and unique memory.

However, his parents witnessed that Boriska acquired knowledge not only from the outer world, but through mysterious channels as well. They saw him reading unknown information from somewhere.

“No one has ever taught him,” Boriska’s mother said. “Sometimes he would sit in a lotus position and start telling us detailed facts about Mars, planetary systems and other civilizations, which really puzzled us,” the woman said.

How may a little boy know such things? Space became the permanent theme of his stories when the boy turned two years old. Once he said that he used to live on Mars himself. He says that the planet is inhabited now too, although it lost its atmosphere after a mammoth catastrophe. The Martians live in underground cities, Boriska says.

The boy also says that, he used to fly to Earth for research purposes when he was a Martian. Moreover, he piloted a spaceship himself. It took place in the time of the Lemurian civilization. He speaks about the fall of Lemuria as if it occurred yesterday. He says that Lemurians died because they ceased to develop themselves spiritually and broke the unity of their planet.

The unusual baby boy was born in the town of Volzhsky, the Volgograd region of Russia. His mother, Nadezhda Kipriyanovich, gave birth to her son one fine morning. “It all happened so fast, I did not even feel any pain. When they showed the baby to me, the boy was looking at me with a grown-up look. As a pediatrician I know that newborns cannot concentrate looks on anything. However, my little baby was staring at me with his big brown eyes. Brushing that fact aside, he was a usual little baby, like all other kids,” the boys mother said.

When the mother and her son returned home from the maternity hospital, the woman started noticing very curious things about her little son. The boy, whom the mother named Boris, hardly ever cried and never suffered from any ailments. He was growing up like all other children, but he started speaking whole phrases at the age of eight months. The parents gave the baby a meccano, and the boy started making geometrically correct figures from it, combining different parts with precision. “I had a very weird feeling that we were like aliens to him, with whom he was trying to establish a contact with,” the boy's mother said.

When his mother brought him a book entitled ''Whom We Are Originated From” by Ernest Muldashev, he got very excited about it. He spent a long time looking through the sketches of Lemurians, pictures of Tibetan pagodas, and then he told his parents of Lemurians and their culture for several hours non-stop. As he was talking, his mother noticed that Lemurians lived 70,000 years ago and they were nine meters tall… “How can you remember all this?” the woman asked her son. “Yes, I remember and nobody has told me that, I saw it,” Boriska replied.

In Muldashev’s second book “In Search of the City of Gods” he looked through pictures for a long time and recollected a lot about pyramids and shrines. Then he claimed that people would not find ancient knowledge under the Great Pyramid of Cheops. The knowledge will be found under another pyramid, which has not been discovered yet. “The human life will change when the Sphinx is opened, it has an opening mechanism somewhere behind the ear, I do not remember exactly,” he said.
Boriska is one of so-called indigo children. They start to appear on Earth as a token of the forthcoming grand transformation of the planet.


The boy says that the displacement of Earth’s poles will cause two catastrophes: in 2009 and 2013. Only a few people will survive, he said.


“No, I have no fear of death, for we live eternally. There was a catastrophe on Mars where I lived. People like us still live there. There was a nuclear war between them. Everything burnt down. Only some of them survived. They built shelters and created new weapons. All materials changed. Martians mostly breathe carbon dioxide. If they flew to our planet now, they would have to spend all the time standing next to pipes and breathing in fumes,” Boriska said.


“If you are from Mars, do you need carbon dioxide?”


“If I am in this body, I breathe oxygen. But you know, it causes aging.”


Specialists asked the boy why man-made spacecraft often crash as they approach Mars. “Martians transmit special signals to destroy stations containing harmful radiation,” Boriska replied.


The boy has deep knowledge of space and its dimensions. He is also aware of the structure of interplanetary UFOs. He talks about that like an expert, draws UFOs on slates and explains the way they work. Here is one of his stories: “It has six layers. The upper layer of solid metal accounts for 25 percent, the second layer of rubber – 30 percent, the third layer of metal – 30 percent, and the last layer with magnetic properties – 4 percent. If we give energy to the magnetic layer, spaceships will be able to fly across the Universe.”


Boriska has a lot of difficulties with school. After an interview he was taken to the second grade, but soon they tried to get rid of him. He constantly interrupts teachers and says that they are wrong… now the boy has classes with a private tutor.

http://english.pravda.ru/science/mysteries/104375-0/

http://english.pravda.ru/science/mysteries/104375-1/

Mais um texto do Kanitz

Uma definição de felicidade

Todas as profissões têm sua visão do que é felicidade. Já li um economista defini-la como ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos. Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego. Autores de livros de auto-ajuda definem felicidade como "estar bem consigo mesmo", "fazer o que se gosta" ou "ter coragem de sonhar alto". O conceito de felicidade que uso em meu dia-a-dia é difícil de explicar num artigo curto. Eu o aprendi nos livros de Edward De Bono, Mihaly Csikszentmihalyi e de outros nessa linha. A idéia é mais ou menos esta: todos nós temos desejos, ambições e desafios que podem ser definidos como o mundo que você quer abraçar. Ser rico, ser famoso, acabar com a miséria do mundo, casar-se com um príncipe encantado, jogar futebol, e assim por diante. Até aí, tudo bem. Imagine seus desejos como um balão inflável e que você está dentro dele. Você sempre poderá ser mais ou menos ambicioso inflando ou desinflando esse balão enorme que será seu mundo possível. É o mundo que você ainda não sabe dominar. Agora imagine um outro balão inflável dentro do seu mundo possível, e portanto bem menor, que representa a sua base. É o mundo que você já domina, que maneja de olhos fechados, graças aos seus conhecimentos, seu QI emocional e sua experiência. Felicidade nessa analogia seria a distância entre esses dois balões - o balão que você pretende dominar e o que você domina. Se a distância entre os dois for excessiva, você ficará frustrado, ansioso, mal-humorado e estressado. Se a distância for mínima, você ficará tranqüilo, calmo, mas logo entediado e sem espaço para crescer. Ser feliz é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter.

O primeiro passo é definir corretamente o tamanho de seu sonho, o tamanho de sua ambição. Essa história de que tudo é possível se você somente almejar alto é pura balela. Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas. Querer ser presidente da República é um sonho que você pode almejar quando virar governador ou senador, mas não no início de carreira. O segundo passo é saber exatamente seu nível de competências, sem arrogância nem enganos, tão comuns entre os intelectuais. O terceiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre esses dois mundos. Saber administrar a distância entre seus desejos e suas competências é o grande segredo da vida. Escolha uma distância nem exagerada demais nem tacanha demais. Se sua ambição não for acompanhada da devida competência, você se frustrará. Esse é o erro de todos os jovens idealistas que querem mudar o mundo com o que aprenderam no primeiro ano de faculdade. Curiosamente, à medida que a distância entre seus sonhos e suas competências diminui pelo seu próprio sucesso, surge frustração, e não felicidade.

Quantos gerentes depois de promovidos sofrem da famosa "fossa do bem-sucedido", tão conhecida por administradores de recursos humanos? Quantos executivos bem-sucedidos são infelizes justamente porque "chegaram lá"? Pessoas pouco ambiciosas que procuram um emprego garantido logo ficam entediadas, estacionadas, frustradas e não terão a prometida felicidade. Essa definição explica por que a felicidade é tão efêmera. Ela é um processo, e não um lugar onde finalmente se faz nada. Fazer nada no paraíso não traz felicidade, apesar de ser o sonho de tantos brasileiros. Felicidade é uma desconfortável tensão entre suas ambições e competências. Se você estiver estressado, tente primeiro esvaziar seu balão de ambições para algo mais realista. Delegue, abra mão de algumas atribuições, diga não. Ou então encha mais seu balão de competências estudando, observando e aprendendo com os outros, todos os dias. Os velhos acham que é um fracasso abrir mão do espaço conquistado. Por isso, recusam ceder poder ou atribuições e acabam infelizes. Reduzir suas ambições à medida que você envelhece não é nenhuma derrota pessoal. Felicidade não é um estado alcançável, um nirvana, mas uma dinâmica contínua. É chegar lá, e não estar lá como muitos erroneamente pensam. Seja ambicioso dentro dos limites, estude e observe sempre, amplie seus sonhos quando puder, reduza suas ambições quando as circunstâncias exigirem. Mantenha sempre uma meta a alcançar em todas as etapas da vida e você será muito feliz.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1910, ano 38, nº 25, 22 de junho de 2005, página 24

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Harold Crick and his wristwatch

Mais Estranho que Ficção

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Cuidado com o que ouvem (Stephen Kanitz)

"Vigilância epistêmica" é a preocupação que todos nós devíamos ter com relação a tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados. Significa não acreditar em tudo o que é escrito e é dito por aí, inclusive em salas de aula. Achar que tudo o que ouvimos é verdadeiro, que nunca há uma segunda intenção do interlocutor, é viver ingenuamente, com sérias conseqüências para nossa vida profissional. Existe um livro famoso de Darrell Huff chamado Como Mentir com Estatísticas, que infelizmente é vendido todo dia, só que as editoras não divulgam para quem. Cabe a cada leitor tentar descobrir.


Vigilância epistêmica é uma expressão mais elegante do que aquela palavra que todos nós já conhecíamos por "desconfiômetro", que nossos pais nos ensinaram e infelizmente a maioria de nós esqueceu. Estudos mostram que crianças de até 3 anos são de fato ingênuas, acreditam em tudo o que vêem, mas a partir dos 4 anos percebem que não devem crer. Por isso, crianças nessa idade adoram mágicas, ilusões óticas, truques. Assim, elas aprenderão a ter vigilância epistêmica no futuro.


Lamentavelmente, muitos acabam se esquecendo disso na fase adulta e vivem confusos e enganados, porque não sabem mais o que é verdade ou mentira.


Nossa imprensa infelizmente não ajuda nesse sentido; ela também não sabe mais separar o joio do trigo. Hoje, o Google indexa tudo o que encontra pela frente na internet, mesmo que se trate de uma grande bobagem ou de uma grande mentira. Qualquer "opinião" é divulgada aos quatro cantos do mundo. O Google não coloca nos primeiros lugares os sites da Universidade de Oxford, Cambridge, Harvard ou da USP, supostamente instituições preocupadas com a verdade. In veritas é o lema de Harvard. O Google não usa sequer como critério de seleção a "qualificação" de quem escreve o texto no seu algoritmo de classificação. Ph.Ds., especialistas, o Prêmio Nobel que estudou a fundo o verbete pesquisado aparecem muitas vezes somente na oitava página classificada pelo Google. Avaliem o efeito disso sobre a nossa cultura e a nossa sociedade a longo prazo.


Todos nós precisamos estar atentos a dois aspectos com relação a tudo o que ouvimos e lemos:


• Se quem nos fala ou escreve conhece a fundo o assunto, é um especialista comprovado, pesquisou ele próprio o tema, sabe do que está falando ou é no fundo um idiota que ouviu falar e simplesmente está repassando o que leu e ouviu, sem acrescentar absolutamente nada.


• Se o autor está deliberadamente mentindo.


Aumentar a nossa vigilância epistêmica é uma necessidade cada vez mais premente num tempo que todos os gurus chamam de "Era da Informação".


Discordo profundamente desses gurus, estamos na realidade na "Era da Desinformação", de tanto lixo e "ruído" sem significado científico que nos são transmitidos diariamente por blogs, chats, podcasts e internet, sem a menor vigilância epistêmica de quem os coloca no ar. É mais uma conseqüência dessa visão neoliberal de que todos têm liberdade de expressar uma opinião, como se opiniões não precisassem de rigor científico e epistemológico antes de ser emitidas.


Infelizmente, nossas universidades não ensinam epistemologia, aquela parte da filosofia que nos propõe indagar o que é real, o que dá para ser mensurado ou não, e assim por diante.


Embora o ser humano nunca tenha tido tanto conhecimento como agora, estamos na "Era da Desinformação" porque perdemos nossa vigilância epistêmica. Ninguém nos ensina nem nos ajuda a separar o joio do trigo.


Foi por isso que as "elites" intelectuais da França, Itália e Inglaterra no século XIV criaram as várias universidades com catedráticos escolhidos criteriosamente, justamente para servir de filtros e proteger suas culturas de crendices, religiões oportunistas e espertos pregando mentiras.
Há 500 anos nós, professores titulares, livres-docentes e doutores, nos preocupamos com o método científico, a análise dos fatos usando critérios científicos, lógica, estatísticas de todos os tipos, antes de sair proclamando "verdades" ao grande público. Hoje, essa elite não é mais lida, prestigiada, escolhida, entrevistada nem ouvida em primeiro lugar. Pelo contrário, está lentamente desaparecendo, com sérias conseqüências.

Stephen Kanitz (http://www.kanitz.com.br/)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Marrakesh Night Market (Loreena McKennitt)

They're gathered in circles

the lamps light their faces

The crescent moon rocks in the sky

The poets of drumming

keep heartbeats suspended

The smoke swirls up and then it dies

Would you like my mask?

would you like my mirror?

cries the man in the shadowing hood

You can look at yourself

you can look at each other

or you can look at the face of your god

The stories are woven

and fortunes are told

The truth is measured by the weight of your gold

The magic lies scattered

on rugs on the ground

Faith is conjured in the night market's sound

Would you like my mask?

would you like my mirror?

cries the man in the shadowing hood

You can look at yourself

you can look at each other

or you can look at the face of your god

The lessons are written

on parchments of paper

They're carried by horse from the river Nile

says the shadowy voice

In the firelight, the cobra

is casting the flame a winsome smile

Would you like my mask?

would you like my mirror?

cries the man in the shadowing hood

You can look at yourselfyou can look at each other

or you can look at the face of your god

“Eu vim a utilizar a história pan-céltica, cujo período é desde 500 AC até o presente, como sendo um trampolim criativo”, disse Loreena McKennitt. “A música que estou criando é um resultado de ter passado por aquele caminho e juntado todos os estilos de temas e influências, que poderiam ser ou não ser publicamente célticas por natureza. Com The Mask And Mirror eu iniciei uma jornada pela Galícia, a região céltica da Espanha, e partindo de lá eu continuei na minha própria peregrinação musical e histórica. Eu olhei para trás e para frente através das janelas do 15° século da Espanha, através das nuanças do judaísmo, islamismo e cristianismo e fiquei atraída por um mundo fascinante de: história, religião, fertilização cultural cruzada”.


Produzida por ela própria e vangloriando-se de uma palheta exótica de instrumentação desde o violoncelo e uillean pipes (tipo gaita de fole) ao dumbeg, tabla e oud, o quinto álbum de Loreena tem vendido milhões de cópias mundialmente. Com um conjunto de influências espanholas, célticas e marroquinas, este segue os caminhos de inspirações vindas desde a Irlanda a Santiago de Compostella até o Oriente Médio. Acompanhando os poemas de São João da Cruz e Shakespeare convertidos em música, sendo estes originais ecléticos e de rica estrutura, incluindo o dramático e sedutor "The Mystic's Dream" e "Marrakesh Night Market".


Em suas jornadas, disse Loreena, as questões examinadas que fazem eco perante os séculos são: “Quem foi Deus? O que é religião, o que é espiritualidade? O que foi revelado e o que foi escondido… e o que eram a máscara e o espelho?”

MARRAKESH NIGHT MARKET (Mercado Marrakesh noturno) 16 de março de 1993 – Cheguei esta noite em Marrakesh e estou hospedada numa esquina cerca do mercado. Deu-se o início do Ramadã e há muita atividade por toda parte. Estou chocada com as feições fisionômicas dos homens sendo cobertas conforme eles passam pelas claridades e escuridões: eles aparentam como monges. Cavalos, carruagens, carros, bicicletas e milhares de pessoas estão envolvidos na confusão das atividades noturnas... uns sons desafinados. Eu me retiro para um telhado de um café para olhar atentamente enquanto bebo meu chá de hortelã... muitos círculos de vinte ou mais pessoas estão espalhadas por toda parte do mercado, cada um envolvido em seu próprio drama de música, contos de histórias, macacos nos ombros de homens, ou cobras sendo bajuladas para “dançar” nos tapetes; preparações “mágicas” de ossos, sementes, pedras e temperos sendo vendidas... as mulheres estão cobertas razoavelmente... Estou impressionada pelo sentido de intriga que o ambiente cria; tanto quanto é escondido como é revelado...

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